Tóquio Ano Zero

Tóquio de um jeito que você nunca leu.

Antes de ler a resenha, saiba que ela está recheada de spoilers.

A história se passa na Tóquio arrasada pela Segunda Guerra Mundial, lá pela década de 40. Um lugar extremamente quente, perigoso, decadente que ao mesmo tempo é um lugar que é repleto de pessoas e que se reconstrói.

O livro também me mostrou como os japoneses não são aquilo que a maioria de nós imagina ser: eles são violentos, nervosos, pervertidos e até engraçados (vai ver foi a guerra e a derrota para os Estados Unidos que os deixaram desse jeito). São educadíssimos (isso eu já sabia) mesmo assim, com várias reverências e quando eles erram fazem vários pedidos de desculpas.

Bem, vamos começar a falar do livro. Apesar de estar escrito “na sinopse do livro” que a história se passa em torno do assassinato de duas mulheres no parque Shiba, a história é sobre várias mulheres – geralmente jovens – mortas.  O detetive Minami é mais que um detetive, é um guerreiro, o cara praticamente não dorme, muito mal come e durante todas as 400 páginas (na verdade 399, para ser mais exato) o detetive toma um só banho – e isso lá pelo final do livro – ele se esforça, viaja e tenta mover terra, céu e mar para descobrir o assassino.

O assassino na verdade é um serial killer REAL, chamado Kodaira Yoshio – é de praxe de David Peace (autor) misturar ficção à realidade – que seduz e estupra diversas mulheres. O livro na verdade fica nisso: a investigação incessante de Minami (e sua rotina melancolicamente monótona) para encontrar provas para incriminar Kodaira. Mas deixe-me fazer uma ressalva: o autor conta essa história de forma pra lá de empolgante, ele usa de vários recursos, um deles irritantemente interessante é o de repetir várias, várias, várias, várias e várias vezes a mesma coisa (de forma consecutiva ou alternada), e tirando a originalidade da história, o livro é muito bom para quem gosta da cultura japonesa, vários nomes, onomatopeias, gírias, estações de trem, hábitos, músicas e até um pequeno mapa de Tóquio na década de 40.

Lembrando que o livro é bem obsceno, tem algumas partes fortes e não acho recomendado para menores de 18 (sério mesmo!). Ver o Japão – uma das nações mais bem estruturadas do mundo – de jeito totalmente destroçado, decadente e principalmente: uma nação em que pela primeira vez na história fora dominada por forças estrangeiras – leia-se Estados Unidos. Ver aquele cenário de guerra me fez imaginar várias vezes o Rio de Janeiro também destroçado, assim como Tóquio, como seria a cidade maravilhosa, nada maravilhosa? Não quero nem imaginar… David Peace também usa uma palavra sensacional: felizardo. Quem sobrevive à guerra é um felizardo não é mesmo? Bem, lendo como as pessoas sofriam depois da guerra com a fome, pobreza e sem uma vida digna para viver me fez pensar bastante se as pessoas “depois da guerra” eram realmente felizardas.

Depois dessa pausa dramática vamos falar do final do livro. O final do livro é surpreendente: a família de Minami morre num bombardeio aéreo, ah, deixe-me abrir um parêntese: Minami tinha uma amante e, infelizmente, ele estava com ela quando o bombardeio começou e matou toda sua família. E parece que depois disso ele… Enlouqueceu! E, terminou trancado numa cela para malucos contando Calmotins (uma espécie de calmante).

Assim como aconteceu na vida real, o primeiro corpo do parque Shiba foi identificado como Midorikawa Ryuko (morta é claro por Kodaira) e o segundo corpo, tanto no livro como na realidade nunca foi identificado. Fora Ryuko, outras vítimas de Kodaira: Kondo Kazuko (22 anos), Matsuhita Yoshio (20), Abe Yoshiko (16) e suspeito de matar: Shinokawa Tatsue (17), Baba Hiroko, Ishikawa Yori e Nakamura Mitsuko. Além de Miyasaki Mitsuko, a primeira mulher morta do livro.

A seguir leia o relato real de Kodaira Yoshio:

“Os espíritos dos mortos dos meus crimes passados

Vêm me assobrar,

E, embora desesperado, passo dias

Esperando pela minha morte

Pensando na bondade que me foi concedida

Até o fim,

E que faz minhas lágrimas rolarem sem parar.

Kodaira Yoshio, 1949.

Realmente foi chocante ler como a capital do Japão foi reduzida a quase pó na Segunda Guerra Mundial, Tóquio, mesmo arrasada e derrotada, ressurge das cinzas e se torna a metrópole mais rica e populosa do mundo, título concedido até os dias de hoje. Lembrando que Tóquio ano zero faz parte da trilogia Tóquio: Tóquio ano zero, Tóquio cidade ocupada e Tóquio recuperada.

Dados do livro

Título Tóquio ano zero
Autor David Peace
Título original Tokyo year zero
Tradutor Luis Reyes Gil
Editora Planeta do Brasil
Páginas 399

Um pensamento sobre “Tóquio Ano Zero

  1. Pingback: Jogos e Livros de 2012 | A Phoenicopterus

Deixe um comentário